domingo, 29 de novembro de 2009

Eleições 2010 - Homenagem Póstuma


Faleceu o poeta e jornalista mineiro Alécio Cunha (40 anos). Ele era repórter e colunista do jornal Hoje em Dia, e estava internado desde 6 de outubro em função de um AVC, no Hospital Vila da Serra.Alécio era casado com a jornalista Márcia Queiroz e tinha um filho de 8 anos.

Alécio, entre outras qualidades, era uma pessoa extremamente acessível e aberta aos novos escritores e poetas de BH, onde trabalhava como jornalista. Todos que o procuraram e que mostraram a ele seu trabalho, contaram com seu respaldo, principalmente nas páginas do caderno de Cultura do jornal “Hoje em Dia”. Em agosto de 2008, escrevi a carta abaixo, que foi reproduzida na seção do leitor do “Hoje em Dia”:

"Todo mundo que batalha em alguma área da cultura em Minas Gerais tem uma grande dificuldade em dar visibilidade ao seu trabalho. Talentosos atores, teatrólogos, compositores, cantores, escritores e poetas, há anos, trabalham e carregam consigo a terrível impressão de que são invisíveis. É incrível como aqui tem gente produzindo coisas boas e sendo simplesmente ignorada.
Infelizmente, os jornalistas que cobrem a área cultural nas Minas Gerais ainda carregam em si uma mentalidade de colonizados e privilegiam, nas páginas de seus jornais, apenas aquilo que vem das metrópoles alienígenas, leia-se da Europa e dos EUA, e o que vem das metrópoles da cultura nacional, para ser mais específico, do Rio e de São Paulo.
A única e honrosa exceção a esta regra tem sido o jornal HOJE EM DIA. Diferente do que vemos em outros órgãos de imprensa, o CADERNO DE CULTURA deste jornal, principalmente através das reportagens do escritor ALÉCIO CUNHA, tem dedicado amplo espaço aos artistas e escritores independentes de Minas Gerais. Chega a ser comovente para muitos de nós, ver enfim reconhecido, com o espaço e o destaque que merece num grande jornal, o trabalho de muita gente talentosa que vem travando, há anos, uma luta inglória contra a invisibilidade. Como exemplos, poderia citar o destaque dado recentemente ao poeta Rogério Salgado e ao Belô Poético e a excelente divulgação dada ao meu livro, NOS IDOS DE 68, que, sem dúvida alguma, deverá parte do sucesso que espero que faça a este jornal.”

Tive a honra também de ter meu livro NOS IDOS DE 68 prefaciado pelo inesquecível poeta. Ninguém que não viveu 68 escreveu sobre a época com tanta propriedade e ternura:
“O ANO QUE NOS AQUECE

Alécio Cunha

Em 1968, nem sonhava em vir ao mundo. Naquele ano de profundas transformações no plano político e comportamental, meus pais se radicalizaram à sua maneira, casando como mandava o figurino numa cidadezinha do Sul de Minas. Nasceria só em junho de 1969, mas o ano anterior, aquele que se recusou a terminar, não deixando, de jeito algum, a presença forte do ponto final entrar em cena, para mim, sempre foi uma ampla reticência.
O ano de 1968 me persegue de forma indireta. Como jornalista, pude repercutir, em série de reportagens publicadas no HOJE EM DIA, veículo da capital mineira onde trabalho desde 1995, os ecos daquele ano especial em, pelo menos, duas oportunidades: 1998 e 2008. Tanto nos 30 quanto nos 40 anos da efervescência do maio de 68, produzi reportagens que tentaram, guardadas as frágeis proporções e limites do espaço jornalístico, entender um pouco mais o que foi aquilo tudo. E, justamente numa dessas apurações, quando resolvi, detetivescamente, descobri quem eram os jovens idealistas que participavam de uma passeata em plena Avenida Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte, em 1968, deparei-me com a figura emblemática do professor, escritor e, para sempre, militante, Luiz Lyrio.
Do poeta, já conhecia explosões vitais de versos pulsantes em edições quase clandestinas, que não chegaram a ser conhecidas, para infelicidade dos leitores, de um público mais amplo. Da prosa do ativista, porque me recuso a usar o “ex”. Sei que uma vez guerreiro, o ser humano não tem como abandonar a utopia e o senso crítico. Torna-se escravo desta maneira diferente de contemplar o mundo. É uma pena, mas dá uma ponta de enorme tristeza quando vislumbro o horizonte ideológico vazio da grande maioria dos jovens de hoje. Refém do consumo, do ego e de doses cavalares de individualismo (o maior inimigo interno do homem), a sociedade contemporânea destila e desfila desesperança.
É para estes jovens que Lyrio parece ter escrito este relato comovente e sincero. O uso narrativo da primeira pessoa em Nos idos de 68 nada tem de confissão ególatra ou imposição de uma única e linear forma de pensar. Pelo contrário, o ideário de Lyrio é plural e complexo. Em alguns instantes de seu recuo no tempo, tem-se a impressão de que, mais do que um acerto de contas com fantasmas pretéritos, o que permanece ali é um convite à reflexão. Erros e acertos, desajustes e contradições, amor e ódio, pares-ímpares nem sempre suplementares, dão as caras em cada capítulo. Sem medo, plurido ou pudor. A dor dos que foram massacrados pelos anos sórdidos da ditadura militar não tem preço. A grande vantagem de relatos como o de Luiz Lyrio é a possibilidade das gerações mais novas conhecerem, de fato, o que aconteceu ali. Nenhum compêndio histórico, filme ou livro didático substituem a força da experiência. Quem viveu 68 – o ano que nos aquece – e sua sina sabe disso. E quem não viveu está prestes a descobrir um novo mundo.”

Alécio Cunha, autor dos livros Lirica Caduca e Mínima Memória (ambos de poesia) e Mário Mariano (ensaio de crítica de arte), nunca será esquecido. Pelo menos, enquanto existir um único ser humano que valorize a literatura e a cultura em nosso planeta.

Um comentário:

  1. Caro Luiz Lyrio,
    Inspirado no seu texto, fiz este acróstico em homenagem ao grande poeta:

    ALÉCIO CUNHA


    A tuante repórter e colunista do jornal Hoje em Dia
    L embremos dele como uma pessoa acessível e aberta
    E le recebia os novos escritores com ternura e alegria
    C om suas reportagens estava sempre de portas abertas
    I nesquecível poeta, um ser humano de uma alma pura.
    O seu trabalho foi imortalizado no Caderno de Cultura

    C om os livros Lirica Caduca e Mínima Memória, desta figura.
    U niversalizou e valorizou a literatura e a poesia no planeta
    N ão será esquecido por aqueles que amam a literatura
    H oje se nós olharmos para o céu e avistarmos um cometa
    A Deus pediremos para receber esta iluminada criatura.

    Descanse em paz!
    José Carlos Gueta

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