sexta-feira, 9 de julho de 2010

Opinião - Então choro...

PÉSSIMOS EXEMPLOS
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” (Rui Barbosa)

O filme “Obrigado por fumar” conta a história de um advogado norte-americano que defendia os interesses de fabricantes de cigarros em processos movidas contra eles por ex-fumantes acometidos por doenças graves. Em uma cena do filme, perguntado sobre como fazia para sempre ganhar as causas, ele revelou que, na impossibilidade de defender seu cliente (ele mesmo achava difícil provar que o cigarro não é um veneno), partia para o ataque, procurando desqualificar o autor da ação e suas testemunhas. E sua estratégia, que não era novidade nos tribunais americanos, sempre dava certo.
Agora, no Brasil, presenciamos que se tornou uma prática usual de advogados de pessoas acusadas de crimes torpes e sanguinários atacarem em duas frentes: uma visa desqualificar o trabalho da polícia, outra visa desqualificar a vítima. Obviamente, a primeira alternativa é a mais eficiente, ainda mais se os advogados contarem com a colaboração de testemunhas acuadas e apavoradas que se dispuserem a mudar seus depoimentos de um dia para o outro. Junte-se a isso uma acusação de confissão obtida sob tortura e gera-se a dúvida, importante elemento que, na maioria das vezes, conduz à absolvição do acusado.
Já a segunda artimanha, desmoralizar a vítima, aparentemente inócua perante o Direito, desempenha um papel importante se, entre os jurados, estiverem pessoas moralistas, retrógradas e preconceituosas. Além disso, esta estratégia torpe serve para acalmar a ira popular e até conquistar para o réu a simpatia da parte mais ignorante e atrasada da “opinião pública”.
Competentíssimos, alguns até famosos, os advogados que manipulam essas táticas com eficiência, além de tentar atrapalha as investigações com denúncias anônimas falsas e até fotos forjadas tentando provar que a vítima de assassinato está viva, não raro absolvem ou conseguem manter em liberdade, por anos, mandantes e assassinos de crimes bárbaros. Pimenta Neves, os mandantes da Chacina de Unaí, Vitalmiro Bastos, hoje, felizmente, atrás das grades, e outros estão aí para corroborar nossa afirmativa. Essa impunidade escancarada de alguns criminosos é um péssimo exemplo para a população em geral e, principalmente, para os jovens. E, diante desse uso vergonhoso, imoral e eficiente das chamadas “brechas” da lei, como bem disse Rui Barbosa, “o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Luiz Lyrio
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Então choro...
Choro por todas as mulheres
Assassinadas, torturadas,mutiladas
desfiguradas, violentadas
A mulher que dá a luz
Que carrega consigo a vida
É morta diariamente
De variadas maneiras
Morte física, morte social
Morte psicológica,morte moral
Quantas, não mais
Sorriem ao espelho
Não conseguem caminhar
Perdem sua identidade
São privadas de amar
O curso natural da vida
É bruscamente interompido
Não chegam a envelhecer
Recebem flores no túmulo
Não podem mais florescer
O macho mostra sua força
De arma na mão
"No homem não pega nada"
Macho ferido no orgulho
Pode ferir ou matar
Querem briga e barulho
Se investem de autoridade
E tiram, sem piedade, vidas
Vidas belas, vidas preciosas
Vidas tristes, vidas sofridas
Matam mulheres
Deixam seus filhos, sem mãe
Seus pais, sem filhas
Roubam sua dignidade
Sua vida é exposta
Invadem sua intimidade
Édisso que a mídia gosta
Matam mulheres
E jogam a culpa na vítima
"Ela me traiu!"
"Ela me provocou!"
"Ela era prostituta!"
"Ela me enganou!"
"Que ela sirva de exemplo!"
Violam seu templo
Condenadas a pena de morte
Sem direito a julgamento
Entregues a própria sorte...
A tristeza me invade
Um crime irracional
Aos olhos da sociedade
Vira uma coisa normal
Então choro
Por Luciana Lopo
Por Maria da Penha
Por Eloá
Por Amina Lahal
Por Hajana Ibrahim
Por Sandra Gomide
Por Eliza Samudio
Por aquelas cujos nomes
Viram apenas siglas
Pelas vítima anônimas
Que choram baixinho
Quando apanham
Que se escondem e se encolhem
Dos hematomas se envergonham
E se recolhem, dentro de si
Que temem denunciar
Protegem seu opressor
Amam seu agressor
Rosana Paulo

7 comentários:

  1. QUE TEXTO. FANTÁSTICO. PARABÉNS. QUANTAS VERDADES. MUITAS LAMENTÁVEIS. UM ABRAÇO. MARIA DA GLÓRIA

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  2. NADA JUSTIFICA UM ATO INSANO E COVARDE COMO ESTE.

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  3. Meu indignado amigo,
    A vida real é bem mais sórdida do que supõe sua vã filantropia. Depois de assistir Dona Elisa, pseudônimo artístico - Fernanda Farias, contracenando com Paulo Bazuca em "Até que enfim anal", imagino que você reveria o tom de sua crônica.

    Você pode vê-la agasalhando a bazuca do Paulo através do e-mule. Os 298 Mb baixam rapidinho. Recomendo como música de fundo Wando:

    Moça, sei que já não és pura,
    Seu passado condena ...

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Caro amigo,
    Um crime desse não tem justificativa. Seja menos atleticano (e flamenguista?) e reacenda seu lado humano (se é que atleticano tem isso). Num crime dessa natureza, não interessa a personalidade da vítima. E mais: prostitutas, atrizes pornôs, etc.,quer você queira ou não, não são mais cidadãs de segunda classe. Têm também o direito à vida. Você, ao ler o texto, cometeu os mesmo erros de muitos analfabetos funcionais que habitam nosso país. Em nenhum momento, citei o nome de Elisa ou de Bruno. Parei com essa bobagem de escrever para fatos momentâneos. A carta é escrita para todas as moças que se iludem correndo atrás de ricos e famosos e para todos os canalhas que usam de suas posições para usar, jogar fora e até matar suas amantes e namoradas. E mais: se você entendeu esta como uma crônica falando de Bruno e Elisa é porque a carapuça caiu como uma luva. Sem tirar nem pôr uma palavra.
    P.S - Não vou assistir ao filme. Não tenho nenhuma tendência à necrofilia.
    19 de julho de 2010 11:37

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  6. É assustador que vítimas de crimes bárbaros, se tornem culpadas do crime que lhes tiram a vida de forma desumana e cruel,sendo baseada a defesa dos criminosos ao passado da vitima, que é condenada a pena de morte, sem direito e julgamento,enquanto os criminosos ficam livres. A impunidade certamente faz com que crimes como esses se tornem banais. Muito bom o texto!

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  7. Nossa agora eu chorei e muito! É triste ter que admitir tantas violências contra mulheres e crianças temos que dar um basta na violência domestica, Parabéns pelo texto com tantas verdades!
    carinhosamente Rosangela das Graças Schivei

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